segunda-feira, 13 de abril de 2009

MILLÔR

eu tava lendo a entrevista que millôr deu para época e tinham autas pérolas, daí peguei as melhores, taí:


Milton Viola Fernandes nasceu em 16 de agosto de 1924 no bairro do Méier, Rio de Janeiro. Em 1941, descobriu que havia sido registrado por engano como 'Millôr' e adotou o nome


ÉPOCA - Você se projetou nos tempos de censura. Como você compara o humor da ditadura com o de hoje? Millôr - Não tenho preocupação com mudanças. A vida é rica e o humor continua. Você me dá o governo mais democrático e eu percebo que estou vivendo dentro de uma ditadura. Nunca houve governo democrático em lugar nenhum. No Brasil, não existe mesmo. O que é diferente em uma democracia é você combinar que aquele que foi eleito vai ficar quatro anos no posto. No Brasil, o medíocre do José Sarney aumentou seu mandato para cinco anos. O nobre Fernando Henrique Cardoso aumentou para oito. Jango foi cortado pela ditadura. O Itamar disse que queria o Fusca, ele o teve no dia seguinte, coisa que nem o Hitler havia conseguido na Alemanha.



Lula é um autocrata O problema é que ele acha que está sendo liberal.



Os governos me assustam pela falta de raciocínio. O que FHC já escreveu de besteira é incrível. Os livros dele são os de um bobo. É tão tolo quanto o Sarney, só que mais barroco.


ÉPOCA - Como você vê a condição do negro hoje? Millôr - É um processo irreversível. A gente adquiriu uma consciência e o negro se valoriza. No Brasil, onde tudo é mais lento, o pessoal do pagode ficou mais bem alimentado e hoje as meninas querem dar para o crioulinho que elas acham bacana. Eu, como sou o rei de perceber as coisas e mudar, já fiz alterações nas frases clássicas: 'Atrás de todo grande homem tem sempre um negão'. A outra: 'À noite, todos os pardos são gatos'. É a verdade atual. É preciso abrir a escola e a sociedade para os negros. Negritude é chique.


Meus amigos Sérgio Porto e Antônio Maria morreram de amor. Hoje isso está cada vez mais difícil. Homem e mulher têm medo de se entregar por temor de processo.


fato é que a relação atual entre homens e mulheres é tão complexa que ninguém pode dizer mais nada. Há liberação, mas também setores conservadores de gente jovem.


Tenho preconceito com o cara que é fanático por trabalho e com o sujeito que é monógamo. A vida desse jeito fica muito limitada.

by: millôr



ÉPOCA - Por que você implica com Machado de Assis? Millôr - Machado de Assis é um bobo, mas todo o mundo o coloca no céu. É difícil a pessoa recuar naquilo que absorve na juventude. Minha cabeça funciona o tempo todo. A questão da Capitu em Dom Casmurro, por exemplo. Fica todo o mundo preocupado se a Capitu deu ou não para o Escobar. Ora, é evidente que sim. O livro diz que o filho da Capitu tem a cara do Escobar. Demonstro com evidências que Capitu traiu. Bentinho descreve de tal maneira Escobar que ele parece mesmo apaixonado pelo amigo. Peguei trechos sintomáticos do Bentinho no livro. Escobar se afasta no ônibus e Bentinho fica triste porque ele não lhe dá adeus. Eles ficavam de mãos dadas no colégio de padres e os padres achavam aquilo estranho. Não era normal. Dom Casmurro é um livro fraco.



ÉPOCA - Qual é o seu ideal de vida? Millôr - O meu é ficar pensando, sem fazer nada. Sempre vi essas beldades das revistas falando aquele clichê: 'Não quero ser reconhecida apenas pela beleza física'. Eu também não quero ser reconhecido apenas pelo meu talento. Eu quero posar nu!



ÉPOCA - Há alguma vantagem em chegar aos 80 anos? Millôr - O problema é que querem comemorar a data. Tinha o meu plano de não passar dos 80. Nunca tive problema com 20, 40, 50 anos. Agora estão me jogando contra a parede. Estou fazendo força para não ser mais engraçadinho. Porque sou muito engraçadinho. Com 80, você não pode mais fazer graça.



ÉPOCA - Você é otimista? Millôr - Vivo no melhor dos tempos. Mesmo a violência é resultado da melhoria da vida humana. A automação está provocando a demissão de todo o mundo. As pessoas são obrigadas a sair às ruas. Nesse momento, em 20 ou 50 anos, ou você socializa os benefícios básicos, ou o mundo vai explodir. Quando a gente liga a TV, percebe que o mundo está explodindo. Mesmo hoje, com essa possibilidade de ver tudo, Bush e Blair contaram mentiras para provocar a guerra e torturaram presos. Há 20 mil anos, Nabucodonosor torturava prisioneiros e ninguém sabia. Nosso tempo é admirável. Não adianta querer recuar. No século XIX, você não tinha nada. As pessoas eram sujas e nojentas. Pode-se dizer que elas não sentiam isso. Mas hoje a vida é muito melhor. Sou um otimista: com 6 bilhões de pessoas no planeta, devem existir por aí pelo menos 10 mil gênios.-->-->-->-->


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